quarta-feira, 5 de junho de 2013

Em busca do Rock perdido

Músicos apontam as dificuldades de reestruturar a cena para voltar ao destaque no mercado local

Entre as décadas de 80 e 90, Brasília se tornou referência nacional pela produção musical no campo do rock. Grandes nomes da música brasileira, como Cássia Eller, Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, tornaram a cidade popularmente conhecida como Capital do Rock. “Brasília ganhou esse título porque daqui saíam bandas boas, as pessoas consideravam que a produção do rock nacional era muito legal, e era mesmo”, afirma a locutora da rádio Transamérica Brasília, Drica Mendonça.

Com o tempo, outros ritmos tomaram conta do mercado brasiliense e o rock foi perdendo o destaque no gosto popular. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) divulgada em janeiro deste ano diz que 56% dos ouvintes de rádio em Brasília escutam sertanejo com frequência. “Esse é o som que todos querem ouvir, é o som da moda, vamos dizer assim, o que o rock já foi em Brasília”, aponta o baterista da banda de rock The Neves, Dan Abreu.

O guitarrista e vocalista da banda Distintos Filhos, Paulo Veríssimo, alega que o rock não perdeu o lugar para outros ritmos, foram os próprios músicos do estilo que não se organizaram profissionalmente.  “Não curto sertanejo, mas vejo que eles são bem mais preparados que nós. São mais profissionais e não tocam apenas por cerveja. É preciso valorizar-se para ser valorizado”, admite.

Segundo o produtor cultural Paulão Silva, para conseguir preferência nos espaços para shows e a disseminação do ritmo na cidade, é preciso ter apoio e patrocínio o que, para ele, se torna mais fácil sendo um estilo com maior divulgação na mídia, como funk e sertanejo.

Drica explica que estar na mídia não significa que o ritmo seja preferência, ou que seja muito bom. Segundo ela, a música atualmente é um mercado mais financeiro do que cultural, por trás do sucesso existe um grande empresário investindo. “Por isso que é tão difícil as bandas de rock independente chegarem a tocar em várias rádios, porque é um investimento muito caro. Tudo que você imaginar quando envolve música é pago”, diz a apresentadora.

Já Paulão conta que o público é culpado por essa desvalorização. “Enquanto o show do seu amigo ali é R$ 10, ninguém vai. Mas depois que ele aparece na televisão e o show passa a ser R$ 50, todo mundo quer ir, quer saber quem é, e de onde veio”, comenta.

Quando o assunto é prospecção, o baterista Dan pondera que almejar sucesso fora, antes mesmo de fortalecer a cena local, contribui para a falta de espaço na cidade.

O guitarrista Paulo Veríssimo diz que as bandas encontram uma oportunidade maior em outros estados, pois apesar de enfraquecido dentro da cidade, o rock de Brasília ainda é renomado no país. “O fato de a gente ter bandas clássicas como Legião e Plebe, faz com que as pessoas queiram conhecer o que de novo estamos fazendo. E hoje o nosso maior público é fora de Brasília”, declara o músico.

Iniciativas
O Fundo de Apoio à Cultura (FAC) oferece ajuda financeira aos artistas de Brasília e inclusive é utilizado pelas bandas de rock independente. Segundo Paulão, o apoio funciona e ajuda muito, mas os músicos não podem depender apenas disso. “Fora esse apoio do governo, o que ajuda é a independência, fazer um coletivo com vários produtores e conseguir fazer um festival, conseguir gravar um disco, um jingle, com ajuda de um e de outro”, diz ele.

Para difundir o trabalho, as bandas que possuem nome mais forte dentro do cenário cultural da cidade organizam festivais que ajudam na divulgação das bandas que estão surgindo. São exemplos: a banda Rocan, responsável pelo projeto Grande Circular; a banda Etno, idealizadora do Etno Mistura; a banda NaLata, com o festival Sai da Lata.

Em parceria, músicos e produtores criaram o movimento Brasília, Capital do Rock. O manifesto oficializado em fevereiro de 2012 busca registrar o rock como símbolo cultural da cidade e trazer para Brasília ações de incentivo à valorização cultural. O primeiro desses projetos, o Rock Sem Fronteiras, foi aprovado pela Secretaria de Cultura (Secult) em março deste ano. Serão feitos eventos mensais no SESC Garagem, palco de grandes shows nas décadas de 80 e 90, apresentando bandas do cenário local e convidados.

Paulão Silva é produtor do festival Porão do Rock (PDR) que traz atrações nacionais e internacionais a Brasília, além de artistas locais escolhidos por meio das seletivas realizadas em todas as regiões administrativas. De acordo com o produtor, um evento como o PDR é muito importante para alcançar projeção nacional. “O destaque é maior, tem imprensa do Brasil inteiro. A banda pode tocar com equipamento, palco, todo apoio e liberdade para mostrar o seu potencial”, articula.

A banda The Neves, por exemplo, participou do PDR em duas edições seguidas. “Essa participação proporcionou que pessoas que não faziam parte da nossa galera pudessem ouvir nosso som, gostar e acompanhar”, conta Dan.

Veríssimo coloca que os eventos ajudam, mas nem sempre os músicos conseguem uma participação. Por isso, para ele, a maior aliada hora da divulgação é a internet. “Com a internet fica mais fácil chegar ao público, assim muitas vezes que tocamos, o público já conhece a banda antes mesmo de ver um show”, comenta. Paulo completa que, apesar da ajuda da internet, é no palco que se encontra a essência do artista. “O show faz toda diferença, é em cima do palco que você cativa as pessoas, e não dá pra fazer isso pelo computador”, frisa.

Nova geração
Thalyson Barboza, 18 anos, é participante assíduo dos eventos de rock no DF e escreve para o blog UndregrounDF, que divulga e dá apoio às bandas da cena underground. Para ele, o que falta para melhorar a estrutura dos eventos é mais apoio e, claro, a união das bandas. Segundo Thalyson, para o rock ganhar espaço novamente é preciso “a criação de um selo forte de eventos, incentivo do governo tanto financeiramente, quanto em divulgação, a criação de revistas e sites especializados em divulgar as bandas”, diz.

Mas nem todos têm do que reclamar. Beatriz Neves, 16 anos, afirma que os shows têm uma boa estrutura e organização. Mas a adolescente concorda que, quanto ao apoio, ainda há muito a fazer. “Falta uma maior divulgação, além do próprio Ministério da Cultura que não sede um espaço ou patrocina o rock na capital”, comenta.

Gabriel Teles, 16 anos, conta que participa dos eventos sempre que pode. Ele indica que bandas devem ser convidadas mais vezes a tocarem na capital, pois seria um bom exemplo para o cenário local. “Por meio das bandas conhecidas, o público veria como o rock é algo importante para a cultura não só de Brasília, mas também do Brasil”, explica.

Valorização
Na opinião de Dan Abreu, o tempo é fundamental para que as bandas atuais tenham ascensão: “Creio que elas têm muita qualidade e muito potencial, só que é muito difícil fazer um som original e de qualidade”.

Veríssimo aponta que ainda é preciso que as bandas façam um bom trabalho e deem o melhor de si para atrair público e atenção da mídia. “É preciso dedicação, profissionalismo e muito trabalho. Acredito que ainda somos bem vistos fora de Brasília, mas pode melhorar”, finaliza.

A locutora Drica conta que desde julho de 2012, a Transamérica modificou a programação local, e só toca rock. Segundo ela, a audiência da rádio aumentou com a mudança, provando que o estilo ainda tem força. “É uma coisa que a gente aposta que vai dar certo. Acreditamos que o rock não morreu aqui em Brasília, ele só precisa ganhar força, e vai ganhar”, completa.

Por: Raiane Samara para O Artefato - Jornal laboratório UCB

Orientação: profa. Karina Gomes Barbosa e profa. Fernanda Vasques

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a matéria! A gente precisava de alguém que falasse algo nesse aspecto, ao invés de repetir todos os outros textos que só exaltam o rock antigo e não mostram a situação atual com a voz das novas bandas.
Parabéns!

Renato A.

amany disse...


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